ETDAH-AD: um instrumento que auxilia no diagnóstico do TDAH em adolescentes e adultos


O texto de hoje foi escrito por uma profissional que é referência por seu trabalho na área do TDAH, Edyleine Bellini Peroni Benczik é Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo e dedica-se à pesquisa do TDAH há anos, através de vários estudos, entre eles a elaboração, validação e padronização de escalas com o objetivo de subsidiar o diagnóstico e as intervenções com portadores de TDAH. Publicou vários artigos, capítulos de livros e livros nesta área como:

TDAH: O que é? Como Ajudar? com o Dr. Luiz Augusto Rohde pela Artmed (1999).

TDAH – Atualização   Diagnóstica e   Terapeuta: Um guia de orientação para profissionais (2000).

Escala para TDAH – Versão para professores,  ambos pela Casa do Psicólogo Editora.

Nessa postagem preparada especialmente para o Tudo sobre TDAH, Dra. Edyleine faz uma breve introdução sobre o TDAH e seus impactos, seguida de uma apresentação da Escala de TDAH – Versão Adolescentes e Adultos (ETDAH–AD).  Então boa leitura!

ETDAH-AD: Um Instrumento que auxilia no diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade  em adolescentes e adultos

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, reconhecido como TDAH é um transtorno mental crônico que começa cedo (na infância), apresenta um curso de desenvolvimento e um quadro de sintomas característicos ao longo da vida. Estudos longitudinais demonstraram que o TDAH persiste na vida adulta em torno de 60% a 70% dos casos (Barkley,2002) e a sua prevalência na vida adulta varia de 2 a 4% na mesma proporção entre homens e mulheres (Biederman e cols, 1994; Barkley e Murphy, 2008; Angold e Costello, 1998). A etiologia descrita na literatura alega que o TDAH pode ocorrer como resultado de bases multifatoriais, como os fatores genéticos, biológicos e neuropsicológicos, mas a predisposição genética para a manifestação do transtorno é acima de 50% (Barbosa, 1995).

O impacto promovido pelo quadro de TDAH envolve prejuízos familiares, como estresse familiar, maiores conflitos no casamento e com os filhos, prejuízo nas relações interpessoais, atividades antissociais, problemas legais, risco para acidentes de trânsito e multas por excesso de velocidade; sucesso educacional limitado, prejuízos no emprego, dificuldades financeiras, sexo arriscado, gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis, bem como uso excessivo de cigarro, café e drogas (Barkley, 2011a; Mattos, 2003a).

Barkley (1997) propôs uma teoria unificadora para explicar as disfunções observadas no TDAH. Barkley (2011b) relata que há uma combinação de três categorias interrelacionadas: baixa inibição, baixo autocontrole e problemas com as funções executivas. A baixa inibição conduz a um baixo autocontrole e à problemas com as funções executivas, as quais ajudam a pessoa a decidir, exatamente, o que fazer quando se exerce o autocontrole.

As funções executivas são as ações direcionadas que usamos para nos controlar, como inibição, memória de trabalho, controle emocional, planejamento e atenção. Quando inibimos o impulso de agir, recorremos a estas habilidades durante esta pausa. Para a utilização destas habilidades é necessário vontade e esforço, o que não é fácil, nem menos automático Barkley (2011c). O sistema de autorregulação é a integração bem sucedida entre o aspecto cognitivo (pensamento) e o aspecto emocional (sentimento).

O tratamento do TDAH requer uma abrangente avaliação comportamental, psicológica, educacional e médica, seguida da educação do indivíduo ou dos familiares. O tratamento deve ser multidisciplinar e requer a assistência de profissionais de saúde mental, educadores e médicos em vários momentos de seu curso para ajudar a pessoa com TDAH no manejo contínuo do seu transtorno. Assim, muitos portadores poderão ter uma vida satisfatória, sentindo-se razoavelmente ajustados e produtivos (Barkley & Murphy, 2008).

Embora o diagnóstico de TDAH em adultos ainda seja motivo de embates, considera- se que ele possa ser realizado de modo confiável quando são utilizados critérios bem definidos, tais como o uso de escalas de avaliação que apresentem estudos de validade e precisão (Barkley, 2011b; Triolo & Murphy, 1996).

A Escala de TDAH – Versão Adolescentes e Adultos (ETDAH–AD, Benczik, 2013) desenvolvida para a população brasileira, por meio de estudos estatísticos, demonstrou excelente nível de precisão e de fidedignidade, conta com 69 itens e avalia cinco fatores:1) Desatenção, 2) Impulsividade, 3) Aspectos Emocionais, 4) Autorregulação da Atenção, da Motivação e da Ação e 5) Hiperatividade.

O fator 1- Desatenção avalia alguns subdomínios de funções executivas, tais como permanecer alerta para engajar-se e cumprir com as exigências de uma situação, atenção concentrada, atenção seletiva, persistência do esforço e da motivação, principalmente em projetos de longo prazo. Habilidade para antecipar e prever eventos futuros, de reter na mente informações importantes das quais necessitamos para guiar as nossas ações, não se esquecendo do objetivo inicial, memória de trabalho, memória prospectiva, ritmo de trabalho, capacidade de organização, de assumir responsabilidades.

O Fator 2 – Impulsividade avalia a capacidade de inibição do impulso, autocontrole, habilidades sociais, interações familiares e pessoais, adaptação nos contextos sociais e no seguimento de regras e normas institucionais.

O Fator 3 – Aspectos emocionais avalia humor, sensação de fracasso, relacionamento interpessoal, isolamento e inflexibilidade diante de mudanças.

O Fator 4 – Autorregulação da atenção, da motivação e da ação avalia a regulação do comportamento para estabelecer prioridades e objetivos, considerando-se a atenção, motivação e a vontade, habilidade de planejamento e organização, a fim de atingir um objetivo, utilizando de estratégias eficazes, modificando-as com a flexibilidade mental necessária na busca de resolução de situações problema. É a Autorregulação do impulso, da motivação, da intensidade e do ritmo da ação mesmo na presença de possíveis obstáculos.

O Fator 5 – Hiperatividade – avalia o nível de inquietação, agitação comportamental, ritmo acelerado que pode comprometer a qualidade do trabalho, nível de distração e instabilidade comportamental, como acidentar-se com facilidade (cair, tropeçar, esbarrar em móveis), qualidade do sono e memória prospectiva.

A ETDAH-AD veio cobrir uma lacuna na área, é um instrumento validado e padronizado para a população brasileira, subsidia a prática profissional e auxilia na captação de informações relevantes para o diagnóstico de forma breve, rápida e prática. Pode ser utilizada por pesquisadores, psicólogos, neuropsicólogos, psicopedagogos, médicos e profissionais de saúde mental em geral.

Por fim, a ETDAH-AD torna-se um recurso valioso no auxílio da quantificação dos relatos de portadores de TDAH, que por muitas vezes são nebulosos, proporcionando ao profissional a possibilidade de transformar uma informação de caráter subjetivo em uma forma mais objetiva (Triolo & Murphy, 1996), como também na elaboração de um plano de intervenção e como entrevis de follow-up destinado ao tratamento do adolescente e adulto com TDAH.

Referências

Angold, A., Costelo, E.J. (1998). Three Month prevalence rates for ADHD in the Great Smoky Mountains Epidemiologic Survey. Personal Communication.

Barkley, R.A (2011a). Scale of Attention Deficit Hiperactivity Disorder (BAARS-IV). New York. Guilford Press.

Barkley, R.A (2011b). Scale of Disfuction Executive (BDEFS). New York. Guilford Press.

Barkley, R.A (2011c). Executive Functioning and Self Regulation in Adults with ADHD: Nature, Assessment and Treatment. Orlando, FL. CHADD.

Barkley, R.A (2002). Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – Guia Completo para pais, professores e profissionais da saúde. Ed Artmed. RGS. 327 p.

Barkley, R. A. (1997). ADHD and the nature of self-control. New York, NY: The Guilford Press.

Barkley, R.A., Murphy, K.R (2008). Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade.Artmed. p. 182.

Barbosa, G.A (1995). Transtornos Hipercinéticos. Infanto-Revista Neuropsiquiátrico da Infância e Adolescência. 3, 2-6.

Benczik, E.B.P (2013). Escala do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – Versão Adolescentes e Adultos. Editora Vetor. São Paulo.

Biederman, J., Faraone , S.V., Spencer, T., Wilens, T, Mick. E., Lapey, K.A. (1994). Gender differences in a sample of adults with attention deficit disorder. Psychiatric Research, 53, 13-29.

Mattos, P., Saboya, E., Kaefer, H., Knijnik, M. P., & Soncini, N. (2003a). Neuropsicologia do TDAH. Em L. A. Rohde & P. Mattos (Orgs.), Princípios e práticas em TDAH (pp. 63-74). Porto Alegre: Artmed.

Triolo, S.J. & Murphy, K.R. (1996). Attention Déficit Scales for Adults – ADSA. New York:Brunner/Mazel Publishers.

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