O papel do pai na vida de uma criança com TDAH


O papel dos pais tem sido extremamente sub-representado na literatura e nas pesquisas sobre as crianças que vivem com TDAH. Uma pesquisa no banco de dados PsychINFO revelou que das centenas de artigos relacionados às famílias e crianças com TDAH publicados desde 1990, apenas 8% especificou a inclusão dos pais (Singh, 2002).

Em outra publicação, a autora Ilina Singh, da Universidade de Cambridge, relata que a ausência do pai é evidente, não apenas na pesquisa: “na minha experiência observando as avaliações para o TDAH, no ambulatório de um hospital, havia uma preocupação em curso entre os médicos sobre a falta da presença dos pais nas consultas iniciais e também nas de acompanhamento do TDAH.

Os pais são, em grande parte, ausentes das grandes redes de suporte on-line para o TDAH, e estão sub-representadas nos fóruns públicos de ensino/apoio para pais de crianças com TDAH.” Os resultados deste estudo sugerem que as perspectivas paternas sobre comportamentos, diagnóstico e tratamento de TDAH podem ser classificados em duas dimensões: “crentes relutantes” e “não-crentes tolerantes”. Frente estas duas dimensões, vários fatores relacionados são relevantes para as perspectivas paternas: a resistência a aceitação de um quadro médico para compreender os comportamentos de seus filhos; a identificação de comportamentos sintomáticos dos filhos; e a resistência ao tratamento com drogas estimulantes (leia o artigo completo Boys Will Be Boys: Fathers’ Perspectives on ADHD Symptoms, Diagnosis, and Drug Treatment).

pai tdah

Devido a uma variedade de forças culturais ao longo das últimas décadas, muitas mulheres tiveram que assumir uma maior responsabilidade na criação dos seus filhos, por vezes assumindo o papel de pai e mãe. Este modelo não é o ideal para ninguém – ele pode exigir muito das mães, diminuir a influência de um pai amoroso ou privar a criança de um modelo de pai que tanto precisam. Infelizmente, muitas vezes essa situação é inevitável, porém particularmente no caso de crianças com TDAH, mesmo quando as condições familiares são favoráveis, a participação do pai na vida da criança é apenas um “pano de fundo”.

Na maioria dos casos, as mães mostram-se bastante interessadas e preocupadas na observação dos comportamentos dos filhos e os ajudam a compreender a manifestação do TDAH na vida da criança. Os pais, no entanto, parecem um pouco excluídos desse processo, por desinteresse ou pela facilidade em delegar essas funções à mãe, ou simplesmente por não serem ouvidos. Vale ressaltar, que essa pode não ser  a realidade de muitas famílias, que felizmente contam com pais participativos, mas o objeto desse texto é exatamente fazer uma reflexão sobre o papel do pai nas famílias com TDAH.

Outro pesquisador americano, Gregory Fabiano (2007) identificou algumas das barreiras para a inclusão dos pais nos grupos de apoio e tratamento do TDAH. Uma delas é a própria abordagem clínica que geralmente é direcionada apenas à mãe, também a falta de horários flexíveis (à noite ou fins de semana) para as consultas provavelmente contribuem para uma participação inferior do pai. Ele ressalta que o envolvimento do pai é marginalizado desde a primeira interação com a equipe clínica – um ponto importante a ser considerado por todos os profissionais da saúde e da educação envolvidos no tratamento das crianças com TDAH.

Em geral, os pais e mães compartilham algumas responsabilidades familiares, mas as mães têm, geralmente, substancialmente mais interações com as crianças do que os pais e são geralmente responsáveis pela maior parte da prestação de cuidados da criança. Outro fator importante que a pesquisa aponta é que os pais de crianças com TDAH têm uma maior probabilidade de ter TDAH. Esses pais podem ser tão ativos, desatentos ou impulsivos quanto seus filhos. Idealmente, esses pais deveriam entender e simpatizar com seus filhos. No entanto, há momentos em que um pai com TDAH pode ficar irritado com a criança por comportamentos que não gosta em si mesmo. Se isso descreve você, procure ajuda. Seu filho precisa de sua aprovação tanto quanto você necessitou da aprovação do seu pai, quando você estava crescendo.

Pais tem diferentes e valiosas informações e introspecções sobre seus filhos com TDAH. Ao falar com os pais sobre suas experiências, eles expressaram uma visão incrível sobre que tipo de interação ajuda ou atrapalha o sucesso emocional, social e comportamental de seus filhos com TDAH.

Há maneiras específicas que os pais podem interagir com essas crianças para maximizar seus talentos e dons e minimizar o impacto negativo de comportamentos relacionados com o TDAH. O modelo masculino é especialmente importante para os meninos. Eles aprendem o que é ser um homem e como agir como um homem principalmente através de seus pais. Os adolescentes podem querer outras orientações e referências masculinas, mas seu pai é o modelo primário. Os meninos aprendem a ser “como seu pai”, seu herói. Se o pai é crítico, ausente ou desaprova todos os comportamentos ou atividades do garoto, como pode este filho ter qualquer imagem saudável de si mesmo? É fundamental que eles sintam que seu pai os compreende e os aceita como eles são.

As crianças precisam aprender a lidar com os sintomas de TDAH e a compensá-los. Seja pelo uso de medicamentos ou outras formas de ajuda, é fundamental que elas sintam que seu pai apoia tudo o que está sendo feito. Se os pais não aceitá-las como são, como elas poderão aceitar a si próprias?

Eu não quero minimizar de forma alguma a importância da mãe para um filho – mas quero enfatizar como é vital para um pai para estar envolvido na vida de seu filho. Esteja presente. Dê a ele amor incondicional e aceitação. Ajude-o a encontrar uma maneira de ser o tipo de pessoa que você aprova. Amanhã pode ser tarde demais.

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