O baralho das habilidades sociais


Quem nunca se divertiu com alguém que se atrapalha, que esquece algo, que se anima intensamente com alguma coisa ao ponto de mudar de assunto, que mostra uma grande energia para fazer as coisas e que gosta de aventuras?

Essas situações quando são esporádicas podem fazer com que as pessoas se aproximem e até se divirtam. Porém com o passar do tempo, as mesmas situações podem passar uma imagem de desinteresse e irresponsabilidade.

As relações sociais de crianças com TDAH

Crianças com diagnóstico de TDAH, de um modo geral podem apresentar um ou mais sintomas de desatenção, agitação motora e impulsividade. Quando há a predominância de desatenção, essas crianças podem se envolver em situações inesperadas e cômicas. Demonstram estar no mundo da lua, se perdem na matéria ou conversa, esquecem coisas, mudam rapidamente de interesses, não terminam as coisas, entre outras coisas. Essas situações no primeiro momento podem nos divertir, porém com o passar do tempo podem nos decepcionar. O mesmo pode ser observado quando há a predominância de agitação motora e/ou impulsividade, onde essas crianças podem: não permanecer muito tempo em um mesmo ambiente, estar sempre em movimento, subir nas coisas, dizer o que vem à cabeça, não conseguir esperar pela sua vez, interromper os outros, furar filas, entre outras coisas.

Essas situações quando são frequentes muitas vezes afastam os colegas e amigos, sendo assim obstáculos na manutenção das relações sociais. Além disso, muitas vezes os pais evitam situações em que seus filhos permaneçam sem a sua supervisão, com receio de que seus filhos possam se envolver em alguma situação de risco (muitos demonstram não ter medo de nada).

Imagine você ter um trabalho em grupo na escola e um dos integrantes sempre esquece de fazer a sua parte do trabalho, ou se cansa com facilidade durante a elaboração do conteúdo, ou ainda interrompe as discussões do trabalho com comentários descontextualizados. Provavelmente no próximo trabalho você irá pensar antes de escolhe-lo para fazer parte do seu grupo. Sendo assim, essas crianças parecem ter facilidade em fazer amizade, porém dificuldade em mantê-la.

Podemos dizer que essas crianças apresentam fragilidade nas habilidades sociais como: controlar seus impulsos, seguir normas, esperar sua vez, ouvir o outro, pensar antes de dar sua opinião, buscar a resolução dos problemas, entre outras. Importante saber que existem técnicas (inventários, auto-registro, observação direta do comportamento, entre outras) que nos auxiliam a investigar essas habilidades sociais.

Caso as habilidades sociais estejam fragilizadas, é possível treina-las, buscando uma melhor qualidade de vida para essas crianças. Pensando nesse treino, as psicólogas Camila Luisi Rodrigues e Camila Tarif Ferreira Folquitto, em parceria com a Sinopsy Editora desenvolveram: “O Baralho das Habilidades Sociais: desenvolvendo relações” (www.sinopsyseditora.com.br).

O baralho é destinado a das áreas de saúde e educação. Pode ser usado com qualquer criança, a partir de 6 anos, que apresente dificuldade nas habilidades sociais, como o caso de muitas crianças com diagnóstico de TDAH.

Pode ser utilizado individualmente ou em grupo. O baralho contem 106 cartas, sendo que 10 delas são objetivos a serem cumpridos durante o jogo. As demais são separadas por cores na parte interna, representando assim categorias distintas: expressões faciais de meninos e meninas, mímicas, habilidades sociais, personagens, coringas e cartas com situações-problema.

Essa diferenciação pela cor pode auxiliar tanto o profissional quanto o participante a distinguir mais facilmente a qual categoria cada carta pertence. Além do jogo proposto pelo baralho, o profissional pode optar por reforçar alguma das atividades utilizando em algum momento, apenas uma das categorias separadamente.

O baralho seria uma ferramenta para o treino das habilidades sociais. Durante o jogo, de acordo com a necessidade de cada pessoa, o profissional pode observar: os comportamentos individuais de cada jogador; verificar a interação dos jogadores no grupo; facilitar a exposição de possíveis conteúdos individuais conflitantes, vivenciados pelos jovens em seus cotidianos; favorecer o reconhecimento e a nomeação das emoções nas diversas situações; estimular a reflexão acerca dos comportamentos apresentados a partir dos contextos culturais em que a criança está inserida e de acordo com teorias das habilidades sociais; buscar alternativas para a resolução das situações conflitantes; promover mudanças e possíveis generalizações dos comportamentos e sentimentos para outros contextos e mediante os processos de intervenção, comparar o desempenho da criança em diferentes momentos, observando possíveis mudanças.

Independentemente da ferramenta utilizada, crianças com TDAH podem por meio do treino das habilidades sociais, aprender a se relacionar socialmente de maneira mais adequada, melhorar suas relações interpessoais e aumentar a qualidade de vida.

O texto de hoje foi gentilmente enviado pela psicóloga Camila Luisi Rodrigues em razão do lançamento do “O Baralho das Habilidades Sociais: desenvolvendo relações”, que ocorrerá durante o VIII SIMPÓSIO ATUALIZAÇÃO EM TDAH: aprendendo a sobreviver, no dia 23 de MAIO de 2015, na UniFMU – CAMPUS IBIRAPUERA, na Avenida Santo Amaro, 1239 – Vila Nova Conceição – São Paulo – SP.

Sobre as autoras:

Camila Luisi Rodrigues é Psicóloga pela Universidade São Marcos. Especialista em Psicologia Hospitalar e Avaliação Psicológica e Neuropsicológica pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Mestre em Ciências, também pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Camila Tarif Ferreira Folquitto é Psicóloga pelo Instituto de Psicologia da USP. Mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e Doutora em Ciências, também pelo Instituto de Psicologia da USP.

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