Entendo o transtorno do desenvolvimento da coordenação


Como publicamos no post Dificuldades motoras no TDAH, o Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) é uma das comorbidades mais frequentes no TDAH e apesar de ser um transtorno reconhecido no meio científico há várias décadas, ainda pouco se conhece e se divulga sobre esse problema no Brasil. Por isso, que tal se aprofundar um pouco sobre o assunto?

Os problemas na coordenação motora são descritos nos principais sistemas de classificação atuais (CID-10 e DSM-5), com nomenclaturas diferentes. A CID-10 – décima edição da Classificação Internacional das Doenças da Organização Mundial da Saúde – confere o código F82 para o que denomina de “Transtorno específico do desenvolvimento motor”, cuja característica essencial é um comprometimento grave do desenvolvimento da coordenação motora, não atribuível exclusivamente a um retardo mental global ou a uma afecção neurológica específica, congênita ou adquirida. Na maioria dos casos, um exame clínico detalhado permite sempre evidenciar sinais que revelam imaturidade acentuada do desenvolvimento neurológico, por exemplo:movimentos coreiformes dos membros, sincinesias e outros sinais motores associados; assim como perturbações da coordenação motora fina e grosseira.Termos associados: Debilidade motora da criança, Síndrome da “criança desajeitada”, Transtorno da aquisição da coordenação, Transtorno do desenvolvimento do tipo dispraxia. (http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/cid10.htm).

tdc

O DSM-5 – quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria – prefere a denominação “Transtorno do desenvolvimento da coordenação” que atualmente é termo mais comum na literatura e cujos critérios diagnósticos serão descritos a seguir:

Critério A: O aprendizado e a execução de habilidades motoras coordenadas estão substancialmente abaixo do esperado dada à idade cronológica e oportunidade de aquisição e uso da habilidade. As dificuldades são manifestadas por “desajeitamento” (ex. deixar cair ou bater em objetos) assim como lentidão e imprecisão da performance de habilidades motoras, tais como agarrar objetos, usar tesoura ou talheres, escrever, andar de bicicleta ou participar de um esporte.

Critério B: As dificuldades motoras descritas no critério A interferem significativa e persistentemente nas atividades de vida diária adequadas à idade cronológica e traz impactos no rendimento escolar, produtividade acadêmica, atividades profissionais, de lazer e diversão.

Critério C: O início dos sintomas deve ocorrer no início do período do desenvolvimento.

Critério D: Os déficits motores não são melhor explicados por deficiência intelectual ou visual e não são atribuídas à condições neurológicas que afetam o movimento (ex. PC, distrofias ou doenças degenerativas).

O diagnóstico de TDC é feito pela síntese da história clínica (desenvolvimental e médica), exame físico, relato escolar ou do local de trabalho e uma avaliação individual, utilizando uma avaliação cultural e psicometricamente apropriada e testes padronizados (American Psychiatric Association, 2013). A European Academy for Childhood Disability recomenda que o diagnóstico do TDC deve ser feito por profissionais qualificados para avaliar critérios específicos, ressaltando a importância da abordagem multidisciplinar. A completa avaliação deve incluir considerações sobre as atividades diárias e relatos da própria criança, dos pais, professores e outros relevantes (Blank et al, 2012). Além disso, a diagnóstico geralmente não é feito antes dos 5 anos, mas se uma criança entre 3 e 5 anos de idade, mostra acentuado comprometimento motor, apesar de ter oportunidades adequadas de aprendizagem e outras causas de atraso motor tiverem sido excluídos , o diagnóstico de TDC pode ser feito com base nos resultados de pelo menos 2 avaliações realizadas em intervalos suficientemente longos (pelo menos 3 meses).

As consequências do TDC ao longo da vida incluem, não apenas pior função motora em relação às crianças de desenvolvimento típico, mas também esses indivíduos experimentam mais sintomas de depressão e ansiedade, baixa auto-eficácia e mais problemas sociais do que seus pares. Pontuações inferiores nos domínios físico, psicológico e social podem refletir pior qualidade de vida em crianças com TDC. (Zwicker, Harris e Klassen, 2013).

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3 Resultados

  1. Lia disse:

    Meu filho com 5 anos e 11 meses foi diagnosticado com TDC. Ele já foi diagnosticado com autismo com 2 anos e meio… Estou perdida e com muitas dúvidas… o TDC tem cura? ou apenas tratamento com terapias?

  2. George Vasconcelos disse:

    A minha neta, com 5 meses de nascida, recebeu o diagnóstico de F82 TDC. Em função da idade dela, esse diagnóstico já pode ser considerado definitivo?

    • Juliana Goulardins disse:

      Olá George,
      O início do TDC geralmente é aparente nos primeiros anos, mas existe uma recomendação para que o diagnóstico antes dos 5 anos de idade seja feito com muita cautela. Se uma criança entre 3 e 5 anos de idade mostra um comprometimento motor acentuado, mesmo que tenha havido oportunidades adequadas de aprendizagem e outras causas de atraso motor foram excluídas (por exemplo, síndromes genéticas, doenças neurodegenerativas), o diagnóstico de TDC pode ser feito com base nos achados de pelo menos duas avaliações realizadas em intervalos suficientemente longos (pelo menos 3 meses). Essas recomendações estão no artigo da European Academy for Childhood Disability (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1469-8749.2011.04171.x/full).
      Você deve esclarecer todas as suas dúvidas junto ao médico responsável pelo caso.

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