Dificuldades motoras no TDAH


A habilidade motora da criança com TDAH é significativamente mais baixa do que se espera, em 30% a 50% dos casos. Em muitos estudos, crianças com TDAH, comparadas com aquelas de desenvolvimento típico, foram reconhecidas como tendo maior quantidade e diferente qualidade de movimento (Fliers et al., 2009; Magalhaes et al., 2006; Polatajko & Cantin, 2005; Visser, 2003; Pastura, Mattos, & Araujo, 2007). Uma pesquisa recente, desenvolvida no Brasil, comparou crianças com TDAH e um grupo controle saudável, avaliando o nível de desenvolvimento motor. Os resultados mostraram um atraso motor de cerca de 1 ano (Goulardins et al, 2013).

Pesquisas anteriores têm demonstrado dificuldades motoras específicas no TDAH, por exemplo, em habilidades motoras finas e grossas (Pitcher et al., 2003), bem como a relação entre os sintomas cardinais e o desempenho motor (Kroes et al., 2002; Tseng et al., 2004). Esses achados têm influenciado a discussão de diferentes hipóteses para explicar as dificuldades motoras nesses indivíduos, que se dividem basicamente em duas vertentes: a primeira sugere que os problemas motores no TDAH sejam secundários à comorbidade com o Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC), e a segunda que as dificuldades motoras sejam atribuídas à tríade sintomatológica básica, sendo assim decorrente do próprio TDAH (Kaiser et al., 2015).

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O TDC é uma das comorbidades mais frequentes encontradas em crianças com TDAH (Kadesjo e Gillberg, 2001), cujas características principais são dificuldades na aquisição e execução de habilidades motoras coordenadas (American Psychiatric Association, 2013). A relação entre o TDAH e o TDC tem sido reconhecida há diversas décadas (ex., Hellgren et al., 1993) e a sobreposição entre ambos os transtornos é estimada em cerca de 50% (Pitcher et al., 2003; Visser, 2003; Gillberg et al., 2004; Fliers et al., 2008).

O TDC é definido como um comprometimento acentuado no aprendizado e execução das habilidades motoras, considerando a idade cronológica e a oportunidade de aquisição e uso das habilidades, que interfere significativa e persistentemente nas atividades de vida diária, com impactos sobre a produtividade acadêmica/ escolar, atividades pré-vocacionais, vocacionais, de lazer e diversão (American Psychiatric Association, 2013). Os sintomas se iniciam desde o período inicial do desenvolvimento e as dificuldades motoras não são decorrentes de problemas neurológicos, sensoriais ou intelectuais (Blank et al., 2012; American Psychiatric Association, 2013).

Considerando o elevado grau de sobreposição entre estes transtornos, que podem interferir tanto com o funcionamento e  com o desenvolvimento, e que ambos têm um grande impacto social, é importante entender a relação entre os dois, a fim de melhorar as estratégias de intervenção. Nesse sentido, a atuação do fisioterapeuta faz-se necessária, uma vez que, suas atribuições profissionais incluem preservar, manter, desenvolver ou restaurar a funcionalidade, além de ter por objeto de estudos o movimento humano em todas as suas formas de expressão e potencialidades, tanto nas alterações patológicas quanto nas repercussões psíquicas e orgânicas. Também o terapeuta ocupacional torna-se importante nos processos de avaliação e intervenção motora, pois reúne tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia de pessoas que tenham dificuldades na inserção à participação na vida social.

A atividade é seu instrumento terapêutico, que seleciona, analisa e adapta a atividade a cada indivíduo e situação, dividindo-a em fases, observando e determinando os aspectos motores, psíquicos, sensório-perceptivos, socioculturais, cognitivos e funcionais necessários à realização da mesma. O educador físico pode contribuir na abordagem com os pacientes com TDAH por ser especialista em atividades físicas e ter como propósitos prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde. Dessa forma, contribui para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal, visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, contribuindo ainda, para consecução da autonomia, da auto-estima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais. Além disso, todos os profissionais da saúde ou da educação que se especializem em psicomotricidade, ou seja, na ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, pode atuar de forma positiva no TDAH.

Qualquer que seja a especialidade do profissional que irá desenvolver a intervenção motora pode utilizar o lúdico como recurso auxiliar nas terapias. As atividades lúdicas têm uma função motivadora, com uma aprendizagem diferente, que ajuda os participantes a desenvolver confiança em si mesmos e em suas capacidades, leva as crianças a desenvolverem percepções sobre outras pessoas e a compreender as exigências bidirecionais de expectativa e tolerância, além de oportunidades para explorar conceitos como liberdade, existentes implicitamente em muitas situações lúdicas, o que eventualmente levam a pontos de transposição no desenvolvimento da independência.

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