Conheça o IMPACTAH: um projeto para o desenvolvimento motor de crianças com TDAH


O que é IMPACTAH?

O projeto Intervenção Motora para Crianças com Transtorno de Atenção e Hiperatividade (IMPACTAH) é um projeto de extensão da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG em parceria com o Núcleo de Investigações sobre Impulsividade e Atenção (NITIDA) da Faculdade de Medicina da UFMG. O NITIDA tem um ambulatório para atendimento de crianças com TDAH, lá as crianças são avaliadas, diagnosticadas e tratadas por uma equipe multidisciplinar. A ideia inicial do IMPACTAH era oferecer no período de férias um tipo de intervenção focado no desenvolvimento das habilidades motoras das crianças do NITIDA. EM 2015, começamos a ofertar a intervenção de forma contínua com atividades 2 vezes por semana no período da tarde. As crianças têm contato por meio das atividades com professores de educação física e alunos de pós-graduação do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Esporte que estudam o comportamento motor humano. Recentemente, temos recebidos crianças também do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento (LND) da FAFICH / UFMG.

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Qual o objetivo do IMPACTAH?

O IMPACTAH tem como principal objetivo promover atividades motoras para crianças com TDAH com idade entre 6 e 10 anos.
Os objetivos específicos do projeto são:

• Avaliar o perfil motor de crianças com TDAH por meio de análise do nível de desenvolvimento motor grosso;
• Promover atividades motoras que visem a melhora da aptidão física e o desenvolvimento motor, cognitivo e psicossocial das crianças com TDAH;
• Trazer informações e direcionamentos aos responsáveis acerca dos déficits motores no TDAH por meio de cartilhas explicativas com os resultados das avaliações motoras;
• Promover a integração entre ensino e extensão possibilitando aos alunos do curso de educação física aplicar no projeto os conhecimentos adquiridos na disciplina “Comportamento Motor e Transtornos do Desenvolvimento: TDAH e Dislexia”.

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Qual a importância do movimento para as crianças com TDAH?

Além dos prejuízos observados no domínio psicossocial e cognitivo, estima-se que a prevalência de déficits e atrasos motores em crianças com TDAH seja superior a 50%. Ou seja, a cada duas crianças com TDAH, uma deve apresentar algum atraso no desenvolvimento das habilidades motoras quando comparas às outras crianças da mesma idade. São observados déficits em diferentes aspectos do controle motor, tais como menor destreza manual, menor capacidade de parametrização de força, maior variabilidade no tempo de reação, menor precisão espacial e temporal e atraso no desenvolvimento das habilidades fundamentais (ex., correr, chutar, saltar).

Como as crianças interagem com o meio ambiente via produção de movimento, as crianças com TDAH apresentarão dificuldades no relacionamento com os colegas, por exemplo. Isso devido a forma com essa relação ocorre, ela se dá por meio de brincadeiras, jogos e prática esportiva. Crianças que apresentam dificuldades no controle motor são crianças que evitam atividades em que as dificuldades ficam expostas. São crianças mais introvertidas e inseguras. Isso pode ser visto nas aulas de educação física escolar e nas brincadeiras nos parques. Um dado científico importante é o de que crianças com desempenho motor pobre nas aulas de educação física estão mais expostas à exclusão e ao bullying.

Assim, as dificuldades nos domínios psicossocial e cognitivo podem ser amplificadas devido às dificuldades que essas crianças têm no domínio motor. É óbvio que as maiores dificuldades enfrentadas por essas crianças se concentram na aprendizagem e na capacidade de se relacionar. Entretanto, uma abordagem mais completa deveria também abordar os aspectos motores com um fator a mais de estimulação. Se a criança com TDAH encontra-se no grupo daquelas que não apresentam déficits e atrasos no comportamento motor, ótimo. A estimulação motora deve ser a mesma que é esperada a todas as crianças. Mas no caso da criança estar nos 50% que apresentam problemas motores, uma atenção especial deveria ser dada a essa criança.

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Como a intervenção motora pode auxiliar as crianças com TDAH?

O tratamento típico recebido pelas crianças com TDAH é o tratamento medicamentoso com psicoestimulantes. Entretanto, tratamentos não-medicamentosos têm sido utilizados como coadjuvantes no tratamento dos sintomas de desatenção e hiperatividade. Os efeitos agudos e crônicos do exercício físico, por exemplo, têm sido associados à redução dos comportamentos negativos e à melhora de funções cognitivas, dentre elas, a atenção. Além das alterações no domínio social e cognitivo, a prática de exercícios físicos que demanda a execução e aprendizagem de novos padrões de movimento apresenta impacto positivo no desenvolvimento motor dessas crianças. É importante ressaltar que o exercício físico é um coadjuvante no tratamento, não é um substituto ao tratamento medicamentoso, quando esse é prescrito pelo médico.

O exercício físico promove maior aporte sanguíneo ao cérebro, regula a função de neurotransmissores, estimula a produção do fator neurotrófico derivado do cérebro – BDNF (relacionado ao surgimento de novos neurônios), essas alterações fisiológicas levam a alterações no domínio social e cognitivo. Vinte minutos de exercício aeróbio agudo, por exemplo, melhora a atenção e o desempenho em testes de leitura e aritmética em crianças com TDAH. Além disso, a prática de exercícios físicos que demanda a execução e aprendizagem de novos padrões de movimento apresenta impacto positivo no desenvolvimento motor das crianças com TDAH.

Pouco se fala sobre as especificidades da atividade motora. As brincadeiras e os jogos requerem muito das funções executivas, que são funções cognitivas importantes para que possamos dirigir nossos comportamentos a metas. Podemos destacar o planejamento, a tomada de decisão, o controle inibitório – função afetada no TDAH, a memória de trabalho… A intervenção motora para crianças com TDAH tem potencial para estimular essas funções.

A educação física tem responsabilidade no desenvolvimento das crianças que apresentam algum tipo de transtorno do desenvolvimento. O problema que a formação dos professores ainda não é direcionada aos transtornos e os professores e alunos sabem muito pouco ou nada sobre essas crianças. Avançamos muito na atividade adaptada, mas o enfoque é ainda dado nas deficiências sensoriais e físicas, assim como em algumas síndromes. Precisamos avançar. Imagens cedidas e texto gentilmente escrito pelo Professor  Doutor Guilherme Menezes Lage, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Sobre o autor: Dr. Guilherme Menezes Lage é professor Adjunto I da UFMG, pesquisador do: 1) Grupo de Estudos em Desenvolvimento e Aprendizagem Motora (GEDAM) da UFMG; 2) Grupo de Pesquisa em Ensino, Controle e Aprendizagem na Performance Musical da UFMG (ECAPMUS); (3) Laboratórios Integrados de Neurospicologia (LINEU) (UFMG-USP-UFRJ-UFRBA).

Sobre o IMPACTAH: É um projeto conduzido de forma VOLUNTÁRIA pelo Marcelo Ruggio Figueiredo Ruggio e outros colaboradores e amigos Tércio Apolinário Natália Lelis João Roberto Ventura Paulo Eduardo Lidiane Fernandes Patrick Ribeiro.

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